Enfermeira a tempo inteiro em Filadélfia, Samantha Roecker deu-se definitivamente a conhecer na última Maratona Internacional da Califórnia, ao terminar a prova no terceiro lugar, com um tempo idêntico às das corredores profissionais da Elite. Eis a próxima estrela a despontar no firmamento (norte-americano) da Maratona?
Duas horas, 30 minutos e 25 segundos. Foi este o tempo conseguido por Samantha Roecker na última Maratona Internacional da Califórnia, prova tradicionalmente utilizadas pelas atletas profissionais norte-americanas da Elite para tentarem a qualificação para as eliminatórias nacionais de apuramento para as competições mundiais de selecções.
Com os chamados Trails de qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio a cerca de dois meses de distância, a enfermeira que, discretamente, tem vindo a crescer no seio do Atletismo norte-americano, chegou a Sacramento para terminar num terceiro lugar, atrás de duas adversárias já consagradas: Emma Bates, vencedora com o tempo de 2h28m19, e Stephanie Bruce, segunda classificada com a marca de 2h29m21. Sendo que a três terminaram com cerca de um minuto de diferença da restante concorrência.

O início de Samantha Roecker
Apesar do resultado agora alcançado numa Maratona que serve também de apuramento para a mais famosa Maratona de Boston, a verdade é que a corrida de Samantha Roecker não começou agora, mas muito atrás, mais precisamente, quando frequentava o secundário.
Tendo crescido em Charleton, uma pequena cidade no estado de Nova Iorque, Samantha Roecker começou a correr no 7.º ano, numa altura em que frequentava o Burnt Hills-Ballston Lake High School.
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Foi, aliás, nesta instituição que descobriu o Corta-Mato, chegando mesmo a integrar a equipa da escola, com a qual conquistou dois títulos estaduais e, em 2007, a qualificação para os Nacionais da especialidade.
O convite de Ray Treacy
Devido às suas prestações, Samantha acabou captando a atenção do treinador Ray Treacy, que já orientava outra atleta hoje em dia consagrada, Molly Huddle, e que acabou convidando a jovem para trabalhar consigo, treinando não apenas Corta-mato, mas também Pista.

A par das prestações de destaque no Corta-mato, que inclusivamente a levaram a participar, pelo Oregon, nos Nacionais Universitários de 2012, Samantha Roecker começou a especializar-se igualmente nos 5.000 e 10.000 metros em pista, algo fundamental para alcançarmos bons resultados na Maratona, como defende Carlos Lopes.
Duas distâncias em que haveria de alcançar, como recordes pessoais, 16m42 e 35m21, respectivamente.
O apelo das longas distâncias
«Eu era sempre convocada para as equipas, mas a verdade é que eu nunca fui uma corrida de topo durante o meu percurso escolar», recorda, em entrevista à Runner’s World, a nova estrela a despontar no firmamento norte-americano da Maratona. Reconhecendo mesmo que, «quando terminei o secundário, estava farta da corrida».
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Resultado deste cansaço, em 2014, ano em que concluiu o seu quinto ano de competição universitária, Samantha Roecker decidiu mudar-se para Washington D.C. e ingressar num Masters em Saúde Pública, na Universidade de Georgetown. Sendo que foi também nessa altura que a jovem começou a sentir a atração pelas distâncias longas.
Na Primavera desse ano foi com um grupo de amigos assistir à Maratona de Boston e foi também aí que decidiu que, em 2015, também ela estaria de dorsal, na partida.
Ainda em 2014, inscreveu-se na Via Marathon de Easton, Pensilvânia, «apenas e só com o objectivo de qualificar-me para Boston». No entanto, recorda, «acabei ganhando a corrida», ao terminar com o tempo de 3h02m17.
«Lembro-me que, na altura, senti-me muito bem com o facto de estar a correr e a vencer novamente, assim como com o facto de conseguir ser competitiva. No entanto, não parava de dizer a mim própria que estava a fazer aquilo apenas e só pelo divertimento”
Os (bons) sinais de Boston
Divertimento ou não, a verdade é que, na Maratona de Boston, Samantha voltou a fixar um novo recorde pessoal de 2h53m52.
«Recordo-me que a prova decorreu sob uma chuva torrencial, mas ainda assim eu consegui fazer uma excelente prestação», afirma a jovem, que, apesar da óptima marca, «continuava a não ter vontade de competir de forma séria. É certo que eu sonhava com um tempo que me permitisse o apuramento para os Trials, mas não era no imediato. A verdade é que, esta postura, acabou retirando de mim qualquer pressão que pudesse acumular nos treinos ou na prova».
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Aliás, e mesmo com o resultado conseguido, Samantha Roecker não teve tempo para sentir quer o sabor do bom resultado, quer até mesmo a pressão de ter de continuar a evoluir. Isto porque, igualmente à porta, estava a conclusão do seu curso em Saúde na Universidade de Georgetown, a que se seguiu, logo no ano seguinte, a mudança para Filadélfia para ingressar num programa de Enfermagem na Universidade da Pensilvânia.

Nova Iorque… e a certeza da Maratona
No entanto, e a par deste novo desafio profissional, Samantha decidiu inscrever-se no Philadelphia Runner Track Club com o objetivo de treinar para a Maratona de Nova Iorque. Prova em que acabaria por terminar no 19.º lugar da classificação feminina, com o tempo de 2h45m29.
«A partir daí tive a certeza de que podia, efetivamente, ter algum potencial para a Maratona. Pelo que decidi dedicar-me a fundo», afirma Samantha Roecker.
Foi assim que, a partir de 2016 e ao longo dos dois anos seguintes, Samantha começou a construir as bases, sólidas, para uma aposta sustentada nos 42,195 quilómetros.
Quando a dedicação compensa
Embora treinando apenas nas horas vagas, já que é enfermeira a tempo inteiro e tem de rodar entre quatro turnos no hospital, a norte-americana começou a correr cerca de 160 quilómetros por semana. Muitos deles em treinos de madrugada, ainda antes do sol irromper, nos treinos de terça-feira à noite em pista ou ainda nas longas tiradas ao fim-de-semana, seja em redor da cidade ou junto ao rio Schuylkill.
Contudo, a verdade é que a dedicação começa a compensar: além do excelente agora resultado conseguido na Maratona Internacional da Califórnia, a nova estrela da Maratona nos EUA conseguiu fixar, em Outubro de 2017, um novo recorde pessoal de 2h38m14.
Um excelente resultado que alcançou na Hartford Marathon, prova que tem lugar no Connecticut e que, desde logo, lhe garantiu um lugar nos Trials do próximo mês de Fevereiro, de apuramento para os Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio…
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